quarta-feira, 11 de abril de 2018

Como falar com crianças sobre consciência racial

Ensinar a não "ver" raça, na verdade, não é a melhor abordagem para criar crianças não preconceituosas. Os adultos muitas vezes pensam que devem evitar conversar com as crianças sobre raça ou racismo porque fazer isso faria com que elas notassem a existência da raça ou se tornassem racistas. Na verdade, o oposto é verdadeiro. 
Quando os adultos se silenciam sobre a raça ou usam a retórica de não serem influenciados pela desigualdade racial, eles na verdade reforçam o preconceito racial nas crianças.
Desde muito jovens, as crianças veem padrões — quem parece viver onde; quais tipos de casas existem em diferentes bairros; quem é o protagonista dos filmes; quem tem os cargos mais importantes no hospital, na escola, no supermercado; e assim por diante — e tentam atribuir "regras" para explicar o que veem. O silêncio dos adultos sobre esses padrões e o racismo estrutural que os causa, combinado com a narrativa falsa, mas onipresente, de que qualquer um pode "subir na vida" trabalhando duro, resulta em crianças tirando como conclusão que os padrões que elas veem "devem ter sido causados por diferenças inerentes entre os grupos". Em outras palavras, as crianças podem deduzir que as desigualdades raciais que veem são naturais e justificadas. 
Além disso, o comportamento dos adultos — por exemplo, dizendo: "Isso não é legal" ou "Não falamos sobre isso" – quando uma criança faz uma pergunta sobre a cor da pele de alguém, muitas vezes ensina às crianças que elas nunca devem falar sobre raça, deixando-as que tirem suas próprias conclusões. Então, ainda que as intenções possam ser boas, quando deixamos de falar abertamente com nossos filhos sobre a desigualdade racial em nossa sociedade, de fato contribuímos para o desenvolvimento de seus preconceitos raciais, que são estabelecidos entre os 3 e 5 anos de idade.
Então, o que você deve fazer? Como conversar com as crianças sobre coisas complexas como o racismo sistêmico e a desigualdade social? Os detalhes vão variar conforme a idade, a identidade racial e o contexto social do seu filho, mas há várias coisas que todos os adultos podem fazer. Primeiro, esteja confortável conversando e aprendendo sobre raça, racismo e desigualdade racial. Se você não é capaz de explicar a outro adulto por que padrões de desigualdade racial existem e persistem, será impossível explicar a uma criança de quatro anos de uma maneira adequada à sua idade. Ou seja, primeiro os adultos têm que entender completamente esses conceitos. 
Se você não tem ensinado essas coisas a seus filhos, certamente não é culpa sua, mas é sua responsabilidade se esforçar para aprender mais agora. Se você não está acostumado a pensar e a falar sobre esse assunto na sua vida cotidiana, tente fazer um esforço. 
Faça perguntas. Se uma criança fizer uma afirmação que pareça racialmente tendenciosa, tente entender seu processo de pensamento em vez de reprimi-la. Perguntar: "Hummm, o que faz você pensar isso?" ajudará a entender a origem de suas ideias. Por exemplo, se uma criança negra diz: "Eu quero ser branca", você pode presumir que ela está rejeitando seu próprio patrimônio racial ou cultural. No entanto, se você perguntar: "O que te levou a dizer isso?", pode descobrir que a criança quer ser médica, e, como ela só vê médicos brancos, presumiu que deve ser branca para ter essa profissão.
Depois de entender o processo de pensamento por trás da declaração da criança, você pode trabalhar para mudar sua percepção, no nosso exemplo, pesquisando por médicos negros em sua própria comunidade para que a criança os conheça, ou encontrando representações de médicos negros na mídia. Se for difícil encontrar essas imagens, você pode empregar o próximo método — usando o conceito de justiça e igualdade — para conversar com seu filho sobre o motivo dessas imagens serem difíceis de encontrar. 
Use o conceito de igualdade e justiça. Quem passa tempo com crianças regularmente, sabe que elas são muito sensíveis a questões do que é justo e injusto. 
Você pode aproveitar esse senso de justiça para ajudar a explicar que os padrões que elas veem são injustos, bem como envolver seus filhos na tentativa de corrigir esses erros. As crianças já estão percebendo padrões no mundo ao seu redor, e essa é a oportunidade de ajudá-las a pensar de forma crítica sobre o que estão vendo, em vez de aceitar essas coisas como "dadas". 
Aponte as coisas cotidianas que o deixam chateado porque são injustas — por exemplo, que você não vê crianças negras o suficiente nos livros infantis na biblioteca — e converse com as crianças sobre o motivo de você achar que essas coisas são injustas. 
Quem passa tempo com crianças regularmente, sabe que elas são muito sensíveis a questões do que é justo e injusto. Você pode aproveitar esse senso de justiça para ajudar a explicar que os padrões que elas veem são injustos, bem como envolver seus filhos na tentativa de corrigir esses erros. As crianças já estão percebendo padrões no mundo ao seu redor, e essa é a oportunidade de ajudá-las a pensar de forma crítica sobre o que estão vendo, em vez de aceitar essas coisas como "dadas". 
Mas não seria responsável de nossa parte conversarmos com as crianças sobre injustiça sem fornecer esperança e um caminho a seguir, o que nos leva a... 4. Capacitar! Procure ativamente por modelos antirracistas em sua comunidade e na sociedade em geral e exponha as crianças a esses modelos. Mostre às crianças que, enquanto enfrentamos problemas preocupantes como sociedade, existem (e sempre existiram) pessoas e organizações que trabalham para fazer mudanças positivas todos os dias. Mostre às crianças que elas também podem ajudar. 

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