A proposta a seguir é direcionada ao Ensino Fundamental II, mas poderá ser adaptada a outras séries. Através da história de Geni Guimarães, poderemos refletir sobre o quanto de beleza deixamos de ver quando usamos apenas os “olhos de fora”. Com os “olhos de dentro”, vemos o mundo e as pessoas de forma mais completa e passamos a descrevê-las retratando suas características sob nosso ponto de vista, revelando, através de nossa descrição, a carga de conceitos e preconceitos que temos das coisas e das pessoas.
ATIVIDADE ORAL:
1. Como você imagina que seja olhar com os olhos de dentro?
2. Alguma vez você já olhou com os olhos de dentro? O que você sentiu?
Enquanto pequenos, vemos as coisas de uma maneira pura, livre das interpretações que mais tarde vamos aprender com os adultos.
À medida que crescemos, vamos adquirindo novas maneiras de ver e sentir o mundo. É como se, com o passar dos anos, fôssemos nos utilizando de óculos para ver o mundo e as pessoas. Passamos então, a enxergar através de uma lente criada por nossos pais, amigos, pela mídia, pela nossa religião ... enfim passamos a ver e a interpretar as coisas conforme os valores que recebemos em nossa educação. Com os “olhos de fora”, que captam apenas as casca, o lado de fora das coisas, vemos, interpretamos e descrevemos o mundo de forma objetiva, já com os “olhos de dentro” nossa interpretação tende a ser mais subjetiva, isto é, ela vai revelar nossa opinião e nossos sentimentos sobre aquilo ou aquele que estamos descrevendo.
LEIA O CONTO “Afinidades: olhos de dentro” do Livro A Cor da Ternura, de Geni Guimarães. REPARE NAS SEGUINTES PASSAGENS DO CONTO:
TEXTO I
[.....]
AFINIDADES: OLHOS DE DENTRO
Entendeu agora? Você é que nunca procurou saber direito dos olhos dos outros. Não é destes olhos que eu falo. É dos olhos de dentro.
- Entendi. Mas eu sempre pensei que as outras pessoas e bichos nem soubessem desses olhos de que você fala. Eu, não é querendo ser sabida como os animais, sabia. Não falava por que... Ah, não dá pra contar agora. É uma história muito comprida. Bem, agora vou ligar pra você e pra ele. Mas ele não sabe brincar. E você, sabe? Brinca do quê?
Todo mundo sabe brincar. Até os grandes. Eu brinco de tanta coisa! De ver, de falar com as crianças, de gargalhar com os olhos, você sabe do que eu falo.
- Sei. Nunca na vida pensei que você fosse tão sabida. Me ensinou num instantinho essas coisas de ver.
A aranhinha remexeu-se.
- A conversa está boa, mas preciso ir. (...)
O Zezinho chorou no quarto ao lado. Olhei para minha amiga, meio indecisa, mas ela, sabida, ajudou-me.
- Vai lá. Gostar... Saí correndo.
Ele estava pelado, esperneando. Segurei suas mãozinhas e agasalhei- as entre as minhas. Silenciou, ficou na mudez absorvendo meu afago.
- Eu pensei que você não ligasse pra mim. Deus me perdoe, mas eu até achava que você era cego por dentro. Desculpe. Sempre fui meio besta mesmo. Mas, daqui por diante, nem vou ficar triste se os grandes não tiverem tempo. Vou sempre falar com você ou com minha aranhinha, se você estiver dormindo. Se você também precisar dela, está às ordens.
O Zezinho abriu a boca, engoliu minha oferta e estalou os lábios diante do gosto gostoso. Sorriu. Seu hálito veio impregnado de perfume de primeira vez.
Bom mesmo foi ter amigos. Não amigos de passos paralelos, com os quais eu só podia falar coisa pensada e repensada para não assustar. Gostoso foi ter plenitude de voz e atitudes. Falar do que quisesse, ter a resposta para tudo e acreditar que tudo era possível, o mundo simples e aberto. Um dia eu precisei saber quem teria feito o trinquinho da portinha da casinha da lua.
- Psssiu! – chamei. - Onde você se escondeu?
Minha aranhinha não respondeu, nem botou a cara nos vãos das telhas.
- Não gosto dessa brincadeira. Você sabe. Nada.
- Vou contar até três: um, dois, três. Nem sinal.
Apavorei-me.
Olhos arregalados, revirei todos os cantos do telhado. Não a encontrei. Empurrei a porta e vi, achatada no batente, pequena, sem cara, sem pernas, seca, minha aranhinha. Só o corpinho estraçalhado grudado na madeira. Estremeci. Quis pegá-la para tentar ao menos abrir-lhe os olhos de dentro, mas ao tocá-la, desfez-se em pó e uma rajada de vento espalhou-a por espaços desmedidos. Comecei a chorar. Não bastava. A tristeza não saía. Quis me morrer, não pude. Me morrer eu ainda não sabia. Gritei:
- Zezinho! Zezinho!
Calei-me porque lembrei que ele não estava. Tinha ido com minha mãe emprestar não sei o que da dona Ernestina. Saí do quarto e sentei-me na escada para esperá-lo e pedir socorro. Mas, quando ele chegou, lembrei que não poderia dar a notícia assim de qualquer jeito. Criança é fraca, eu sabia.
Enquanto esperava o momento oportuno, uma dúvida terrível me assaltou.
- Zezinho, você acha que no céu tem comida de aranha?
(...)
- Chi... Não sei – respondeu ele sem me olhar.
Senti que seus olhos internos, como os olhos dos outros, olhavam agora para outra direção.
Vesgos, se desviaram do meu rumo e me deixavam, desde então, órfã de afinidade e crença. (...)
Quando eu perguntava de que cor era o céu, me respondiam o óbvio: Bonito, grande, azul, etc. Não entendiam que eu queria saber do céu de dentro. Eu queria a polpa, que a casca era visível. Por isso foi que resolvi manter contato com as pessoas só em casos de extrema necessidade. (...)
ATIVIDADES:
1. “Deus me perdoe, mas eu até achava que você era cego por dentro” – como pode ser traduzida a expressão em negrito?
2. Qual a razão pela qual a menina passou a sentir-se órfã?
DESCRIÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA
DESCREVER é fazer a descrição de algo, de alguém, de algum lugar. É expor, contar minuciosamente (com detalhes) aquilo ou aquele que se vai descrever.
A DESCRIÇÃO OBJETIVA expõe as características (físicas) visíveis do objeto, lugar ou pessoa que está sendo descrita. Ex. A mulher era magra, tinha os cabelos curtos e usava uma saia florida com uma blusa preta.
A DESCRIÇÃO SUBJETIVA prende-se aos detalhes psicológicos que não são visíveis e que quase sempre caracterizam a opinião e os sentimentos de quem está descrevendo. Ex. A mulher era muito elegante, tinha lindos cabelos e um olhar penetrante.
3. NOS TRECHOS A SEGUIR, QUE TIPO DE DESCRIÇÃO ESTÃO SENDO FEITAS?
a) “Empurrei a porta e vi, achatada no batente, pequena, sem cara, sem pernas, seca, minha aranhinha. Só o corpinho estraçalhado grudado na madeira.”
b) “Zezinho era um irmãozinho querido. Era companheiro e prestava atenção em tudo o que eu falava. Tinha sempre uma palavra amiga.”
ATIVIDADE DE PRODUÇÃO DE TEXTO
Descreva nossa escola de duas formas:
Na primeira faça uma DESCRIÇÃO OBJETIVA, isto é, descreva os aspectos físicos da escola. Em seguida, faça uma DESCRIÇÃO SUBJETIVA, ou seja, descreva sob o seu ponto de vista, as características da escola.
Feita essa atividade, creio que você entendeu a diferença entre ver com os olhos de fora e ver com os olhos de dentro. Quando vemos o mundo apenas com os olhos de fora, vemos só o exterior e o caracterizamos de maneira superficial; já quando apreciamos o mundo e as pessoas com os olhos de dentro a tendência é descrevermos de maneira subjetiva revelando uma visão mais aprofundada porque traduz nosso ponto de vista, nossa opinião e nossas emoções sobre o que está sendo descrito.
TEXTO II
CORES E DORES DO PRECONCEITO
“Só podia ser coisa de português!, “Chega aí, neguinho!”, “Você tá pior do que judeu, mano?”, “É negro, mas tem alma de branco”, “A japa saiu sem entender nada”. Quem nunca ouviu frases como essas? Nem sempre quem as fala tem a intenção de ofender ou magoar, porém será que elas não ocultam algum tipo de preconceito?
SERVIÇO DE NEGRO
Um garoto negro termina um serviço que lhe havia sido solicitado e, orgulhosamente, garante ter feito “serviço de branco”. Várias moças respondem a anúncio para secretária; algumas perguntam se podem ser entrevistadas, “mesmo sendo negras”. Ser negro ou mulato e caminhar pela cidade é considerado “atitude suspeita” por muitos policiais. Como dizia um conhecido – para meu horror e indiferença dos demais participantes da conversa: “Não tenho nada contra o negro ou nordestino, desde que saibam seu lugar”. E esse lugar, claro, é uma posição subalterna na sociedade.
Numa sociedade competitiva como a nossa o ato de etiquetar o outro como diferente e inferior tem por função definir-nos, por comparação, como superiores. Atribuir características negativas aos que nos cercam significa ressaltar as nossas qualidades, reais ou imaginárias. Quando passamos da ideia à ação, isto é, quando não apenas dizemos que o outro é inferior, mas agimos como se de fato ele o fosse, estamos discriminando as pessoas e os grupos por conta de uma característica que atribuímos a eles. [...] Afirmações do tipo “os portugueses são burros”, “os italianos são grossos”, “os árabes, desonestos”, “os judeus, sovinas”, “os negros, inferiores”, “os nordestinos, atrasados”, e assim por diante, têm a função de contrapor o autor da afirmativa como a negação, o oposto das características atribuídas ao membro da minoria. Assim, o preconceituoso, não sendo português, considera-se inteligente; não sendo italiano, acredita-se fino; não sendo árabe, julga-se honesto; não sendo judeu, se crê generoso. É convicto de sua superioridade racial, por não ser negro, e de sua superioridade cultural por não ser nordestino.
É importante notar que, a partir de uma generalização, o preconceito enquadra toda uma minoria. Assim, por exemplo, “todos” os negros seriam inferiores, não só alguns. A inferioridade passaria a ser uma característica “racial” inerente a todos os negros. [...] E o preconceito é tão forte que acaba assimilado pela própria vítima. É o caso do garoto que garantiu ter feito “serviço de branco”. Ou do imigrante que nega sua origem. Ou, ainda, da mulher que reconhece sua “inferioridade”[...]
ATIVIDADES:
1. O autor cita alguns exemplos de preconceito contra o negro. Esse preconceito parte exclusivamente dos brancos? Justifique sua resposta.
2. Por que o garoto e as moças que respondem ao anúncio agem de uma maneira preconceituosa com eles mesmos. Que situações da história os levam a agir dessa forma?
3. Que outras classes de pessoas são vítimas de preconceitos?
4. Somos um povo miscigenado. Segundo o texto V, que você vai ler logo abaixo, o brasileiro é uma mistura que deu certo. Por que então há tanta rejeição entre as classes?
LEIA O POEMA:
BARBOSA, Márcio, Cadernos Negros, são Paulo, Quilomhoje, p. 106
ATIVIDADES:
O poeta se utiliza de antônimos para compor seu poema. ANTÔNIMOS são palavras que possuem significados contrários. Ex. tristeza x alegria, alto x baixo, etc.
1. Retire dois pares de antônimos do poema.
2. Pesquise 3 outros pares de antônimos.
3. Qual é a cor do luto? Por que essa cor representa a morte?
4. Complete o quadro com os dados que poeta afirma e nega sobre sua cor:
TEXTO IV
MEDO DO TROCO “Um país projetado sobre o trabalho escravo não se reinventa de um dia para o outro, nem mesmo de um século para o outro. O racismo faz parte da fibra de que a América é tecida. Não adianta dizer que a partir de determinado momento seremos todos iguais quando uma parte da população teve seu progresso atrasado em 200 anos. Digamos que bem agora, no meio desta entrevista, eu lhe dê uma bofetada, sem nenhum motivo ou razão. Nunca mais poderemos estar juntos no mesmo recinto sem que você tema que eu lhe dê outra bofetada [...]. Por isso nos Estados Unidos os brancos nutrem tamanha desconfiança em relação aos negros que eles não conhecem – porque aquele pode ser o negro que virá lhe dar o troco."
1. É comum ouvirmos afirmações de que no Brasil não há racismo como nos Estados Unidos. Compare o final do texto II ao ponto de vista do ator americano Will Smith.
a) A situação do racismo no Brasil parece ser diferente? Por quê?
b) Nos Estados Unidos, a discriminação é latente. Em alguns estados, chegam ao cúmulo de ter bares só para negros e lugares onde não é permitida a entrada de negros. Qual sua opinião sobre esse fato?
2. ATIVIDADE DE PESQUISA:
FAÇA UMA PESQUISA SOBRE A COLONIZAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS E ESCREVA COMO FOI A CHEGADA DOS COLONIZADORES AFRICANOS AO PAÍS E QUAIS AS FORMAS DE TRABALHO QUE FORAM OFERECIDAS A ESSES IMIGRANTES.
TEXTO V
Brasileiro: a mistura que deu certo
O povo e a cultura brasileira são muito valorizados no exterior. Em geral, somos vistos como um povo cuja mistura étnica, cultural, linguística, rítmica, religiosa, gastronômica, etc. resultou num celeiro riquíssimo de criatividade. Veja quanta gente de fora veio fazer parte do povo brasileiro, entre 1820 e 1950:
africanos: 4 milhõesportugueses: 1,7 milhões
italianos: 1,5 milhões
espanhóis: 719 mil
alemães: 295 mil
japoneses: 243 mil
ucranianos: 200 mil
outros: 450 mil
Fonte: Marcelo Duarte. O guia dos curiosos – Brasil.
ATIVIDADE DE PESQUISA:
1. Com o auxílio do mapa-múndi, identifique o percurso feito pelos imigrantes para chegarem ao Brasil.
2. Pesquise palavras de origem africana, alemã, espanhola e árabe que ajudaram a formar o português do Brasil.
3. Pesquise na gastronomia brasileira, pratos de origem africana, italiana, japonesa e alemã e árabe.
4. Utilizando-se do texto acima, monte um gráfico da formação do povo brasileiro entre 1820 e 1950 Não se esqueça das legendas.
Fonte: Folha de S. Paulo, 01/05/2005
ATIVIDADES:
1. De acordo com os gráficos, em que profissões os brancos ganham mais que os negros?
2. Em qual profissão os negros são privilegiados?
3. Você sabe o valor do salário mínimo atual? Quantos reais correspondem a dez salários mínimos?
4. Se um Engenheiro de minas (sendo branco) ganha dez salários mínimos e um outro profissional da mesma área (sendo negro) ganha 32,8% deste valor. Qual o salário deste último?
5. Um Tenente- coronel recebe um salário de R$ 4,500,00. Qual o salário de seu colega, sabendo-se que ela ganha 73,2% deste valor?
6. Observando o gráfico, você acha que há discriminação com os trabalhadores negros brasileiros? Por quê?
* Atividades retiradas do sítio: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/478-2.pdf
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Gostei dessa atividade, vou aplicá-la.
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