domingo, 20 de abril de 2014

Roteiro para exploração do texto AFINIDADES: OLHOS DE DENTRO, de Geni Guimarães*


A proposta a seguir é direcionada ao Ensino Fundamental II, mas poderá ser adaptada a outras séries. Através da história de Geni Guimarães, poderemos refletir sobre o quanto de beleza deixamos de ver quando usamos apenas os “olhos de fora”. Com os “olhos de dentro”, vemos o  mundo e as pessoas de forma mais completa e passamos a descrevê-las retratando suas características sob nosso ponto de vista, revelando, através  de  nossa descrição, a carga  de conceitos e preconceitos que temos das coisas e das pessoas.

ATIVIDADE ORAL:
1. Como você imagina que seja olhar com os olhos de dentro?
2. Alguma vez você já olhou com os olhos de dentro? O que você sentiu?

Enquanto pequenos, vemos as coisas de uma maneira pura, livre das interpretações que mais tarde vamos aprender com os adultos.
À medida que crescemos, vamos adquirindo novas maneiras de ver e sentir  o   mundo.  É   como  se,  com o   passar  dos  anos,  fôssemos nos utilizando de óculos para ver o mundo e as pessoas.  Passamos então, a enxergar através de uma lente criada por nossos pais, amigos, pela mídia, pela nossa religião ... enfim passamos a  ver e  a  interpretar  as coisas conforme os valores que recebemos em nossa educação.  Com os “olhos de fora”, que captam  apenas  as  casca, o  lado de  fora  das  coisas, vemos, interpretamos e descrevemos o mundo de forma objetiva, já com os “olhos de dentro” nossa interpretação tende a ser mais subjetiva, isto é, ela vai revelar  nossa opinião e nossos sentimentos sobre aquilo ou aquele  que estamos descrevendo.

LEIA  O CONTO “Afinidades:  olhos de dentro” do Livro A Cor da Ternura, de Geni Guimarães. REPARE NAS SEGUINTES PASSAGENS DO CONTO:

TEXTO I
[.....]
AFINIDADES: OLHOS DE  DENTRO
Entendeu  agora? Você  é que nunca procurou saber direito  dos olhos dos outros. Não é destes olhos que eu falo. É dos olhos de dentro.
- Entendi.  Mas eu sempre pensei  que as outras pessoas e bichos  nem soubessem desses olhos  de que você fala.  Eu, não é querendo  ser sabida como os animais, sabia. Não falava por que... Ah, não dá pra contar agora. É uma história  muito comprida.  Bem, agora  vou ligar pra você e pra ele.  Mas ele não sabe brincar. E você, sabe? Brinca do quê?
Todo mundo  sabe  brincar.  Até  os grandes.  Eu brinco  de tanta coisa! De ver, de falar  com as crianças,  de gargalhar  com os olhos,  você sabe do que eu falo.
-  Sei. Nunca na  vida  pensei  que você fosse tão sabida.  Me  ensinou num instantinho essas coisas de ver.
A aranhinha remexeu-se.
- A conversa está boa, mas preciso ir. (...)
O  Zezinho chorou no  quarto ao lado. Olhei para  minha amiga, meio indecisa, mas ela, sabida, ajudou-me.
- Vai lá. Gostar... Saí correndo.
Ele estava pelado,  esperneando. Segurei  suas mãozinhas  e agasalhei- as entre as minhas. Silenciou, ficou na mudez absorvendo meu afago.
- Eu pensei  que você não ligasse  pra mim.  Deus me perdoe, mas eu até achava que você era cego por dentro. Desculpe. Sempre fui  meio besta mesmo. Mas,  daqui  por diante,  nem  vou  ficar  triste  se  os grandes não tiverem tempo. Vou sempre falar  com você ou com minha  aranhinha, se você estiver dormindo. Se você também precisar dela, está às ordens.
O  Zezinho  abriu  a boca, engoliu  minha  oferta  e estalou  os  lábios diante do gosto gostoso.  Sorriu. Seu hálito veio impregnado de perfume de primeira vez.
Bom mesmo  foi  ter amigos. Não amigos de passos paralelos, com os quais eu só podia falar coisa pensada e repensada para não assustar. Gostoso foi  ter plenitude  de voz  e atitudes. Falar  do que quisesse, ter a resposta para tudo e acreditar  que tudo era possível,  o  mundo simples  e aberto. Um   dia   eu precisei saber  quem teria   feito   o  trinquinho   da  portinha da casinha da lua.
- Psssiu! – chamei.   -  Onde você se escondeu?
Minha  aranhinha  não respondeu,  nem  botou a  cara  nos vãos das telhas.
- Não gosto dessa brincadeira. Você sabe. Nada.
- Vou contar até três: um, dois, três. Nem sinal.
Apavorei-me.
Olhos arregalados, revirei todos os cantos do telhado. Não a encontrei. Empurrei  a porta  e vi, achatada no batente, pequena, sem cara, sem pernas, seca,  minha   aranhinha.  Só   o  corpinho   estraçalhado  grudado na madeira. Estremeci.  Quis pegá-la  para tentar ao menos abrir-lhe  os olhos  de dentro, mas ao tocá-la, desfez-se  em pó e uma rajada  de vento espalhou-a por espaços desmedidos. Comecei  a chorar. Não bastava.  A tristeza  não saía.  Quis me morrer, não pude. Me morrer eu ainda não sabia. Gritei:
- Zezinho! Zezinho!
Calei-me porque  lembrei  que ele  não estava. Tinha ido com  minha mãe emprestar não sei o que da dona Ernestina. Saí do quarto e sentei-me na escada para esperá-lo e pedir socorro. Mas,  quando ele  chegou, lembrei  que não poderia  dar a notícia  assim de qualquer jeito. Criança é fraca, eu sabia.
Enquanto  esperava  o   momento  oportuno,  uma  dúvida  terrível  me assaltou.
- Zezinho, você acha que no  céu tem comida de aranha? 
(...) 
- Chi... Não sei – respondeu ele sem me olhar. 
Senti que seus  olhos  internos,  como os olhos  dos outros, olhavam agora para outra direção.
Vesgos, se desviaram do meu rumo e me deixavam, desde então, órfã de afinidade e crença. (...)
Quando eu perguntava de que cor  era o céu, me respondiam  o óbvio: Bonito, grande,  azul, etc.  Não entendiam  que eu queria  saber do céu de dentro.  Eu queria a polpa, que  a casca  era  visível. Por  isso foi que resolvi manter contato com as pessoas só em casos de extrema necessidade. (...)

ATIVIDADES:

1. “Deus me  perdoe,  mas  eu  até  achava  que  você  era  cego por dentro” – como pode ser traduzida a expressão em negrito?
2.  Qual a razão pela qual a menina passou a sentir-se órfã?

DESCRIÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA


DESCREVER é fazer  a descrição  de algo,  de alguém,  de algum lugar.  É expor, contar minuciosamente  (com detalhes)  aquilo  ou aquele  que se vai descrever.

A  DESCRIÇÃO OBJETIVA   expõe as características (físicas) visíveis do objeto, lugar ou pessoa que está sendo descrita. Ex. A mulher era magra, tinha os cabelos curtos e usava uma saia florida com uma blusa preta.

A DESCRIÇÃO SUBJETIVA  prende-se aos detalhes psicológicos que não são visíveis e que quase sempre  caracterizam a opinião e os sentimentos de quem está descrevendo. Ex. A mulher era muito elegante, tinha lindos cabelos e um olhar penetrante.

3. NOS  TRECHOS   A  SEGUIR,  QUE  TIPO  DE  DESCRIÇÃO ESTÃO  SENDO FEITAS?
a) “Empurrei a porta e vi, achatada no  batente, pequena, sem cara, sem pernas, seca, minha  aranhinha. Só  o  corpinho  estraçalhado grudado na madeira.”
b) “Zezinho  era  um  irmãozinho  querido.  Era  companheiro  e prestava atenção em tudo o que eu falava. Tinha sempre  uma palavra amiga.”

ATIVIDADE DE PRODUÇÃO DE TEXTO

Descreva nossa escola de duas formas:
Na  primeira   faça   uma  DESCRIÇÃO   OBJETIVA,   isto   é, descreva  os aspectos físicos da escola. Em  seguida, faça  uma DESCRIÇÃO  SUBJETIVA,  ou seja,  descreva sob o seu ponto de vista, as características da escola.
Feita  essa atividade,  creio  que você entendeu a diferença  entre ver com os olhos  de fora e ver com os olhos  de dentro. Quando vemos o  mundo apenas com os olhos de fora, vemos só o exterior e o caracterizamos de maneira superficial; já quando apreciamos o mundo e as pessoas com os olhos   de dentro  a  tendência  é descrevermos de  maneira   subjetiva revelando  uma visão  mais aprofundada porque traduz nosso ponto de vista, nossa opinião e nossas emoções sobre o que está sendo descrito.

TEXTO  II

CORES E DORES DO  PRECONCEITO
“Só  podia ser coisa de português!, “Chega aí, neguinho!”, “Você tá pior do que judeu, mano?”, “É negro, mas tem alma de branco”, “A japa saiu sem entender nada”. Quem nunca ouviu frases  como essas? Nem sempre  quem as fala tem a intenção de ofender ou magoar, porém será que elas não ocultam algum tipo de preconceito?

SERVIÇO DE  NEGRO
Um    garoto  negro  termina  um  serviço  que  lhe  havia  sido solicitado e, orgulhosamente, garante ter feito “serviço de branco”. Várias    moças  respondem   a   anúncio  para   secretária;   algumas perguntam se podem ser entrevistadas, “mesmo sendo negras”. Ser negro  ou  mulato  e  caminhar  pela  cidade  é considerado  “atitude suspeita” por muitos policiais. Como dizia um conhecido – para meu horror  e indiferença  dos  demais participantes  da  conversa: “Não tenho nada contra  o  negro  ou nordestino, desde  que  saibam  seu lugar”. E esse lugar, claro, é uma posição subalterna na sociedade.
Numa sociedade competitiva como a nossa o ato de etiquetar o outro  como diferente  e  inferior  tem  por função  definir-nos,  por comparação, como superiores.  Atribuir características negativas aos que nos cercam  significa ressaltar  as  nossas qualidades, reais ou imaginárias. Quando passamos da ideia à ação, isto é, quando não apenas dizemos que o  outro é inferior, mas agimos como se de fato ele o  fosse, estamos discriminando as pessoas e os grupos por conta de uma característica que atribuímos a eles. [...] Afirmações do tipo “os portugueses  são  burros”,  “os italianos  são grossos”, “os árabes,  desonestos”,  “os judeus, sovinas”,  “os negros, inferiores”, “os nordestinos,  atrasados”,  e assim por diante, têm a função de contrapor o autor da afirmativa  como a negação, o oposto das características atribuídas ao membro da minoria. Assim, o preconceituoso, não sendo português,  considera-se  inteligente; não sendo italiano, acredita-se  fino; não sendo árabe,  julga-se honesto; não sendo judeu, se crê generoso. É  convicto de sua superioridade racial, por não ser negro, e de sua superioridade cultural por não ser nordestino.
É importante notar que, a partir de uma generalização, o preconceito enquadra toda uma minoria. Assim, por exemplo, “todos” os negros seriam inferiores, não só alguns. A inferioridade passaria a ser uma característica  “racial” inerente a todos os negros. [...] E  o preconceito é tão forte que acaba assimilado pela própria vítima. É o caso do garoto  que garantiu  ter  feito “serviço de branco”. Ou do imigrante que nega sua origem. Ou, ainda, da mulher que reconhece sua “inferioridade”[...]

ATIVIDADES:


1. O autor cita alguns exemplos de preconceito contra o negro. Esse preconceito parte exclusivamente dos brancos? Justifique sua resposta.

2. Por que o  garoto e as moças que respondem ao anúncio agem de uma maneira preconceituosa com eles mesmos. Que situações da história os levam a agir dessa forma?

3. Que outras classes de pessoas são vítimas de preconceitos?

4. Somos um povo miscigenado. Segundo o texto V,  que você vai ler logo abaixo,  o  brasileiro é uma mistura que deu certo. Por que então há tanta rejeição entre as classes?

TEXTO  III

LEIA  O POEMA:


BARBOSA, Márcio, Cadernos Negros, são Paulo, Quilomhoje, p. 106


ATIVIDADES:


O  poeta se utiliza de antônimos para compor seu poema. ANTÔNIMOS são palavras que possuem significados contrários. Ex. tristeza x alegria, alto x baixo, etc.

1. Retire dois pares de antônimos do poema.
2. Pesquise 3 outros pares de antônimos.
3. Qual é a cor do luto? Por que essa cor representa a morte?
4. Complete o  quadro com os dados que poeta afirma e nega sobre sua cor:



TEXTO IV


MEDO DO  TROCO “Um  país  projetado  sobre  o trabalho escravo não se reinventa de um dia para o  outro, nem mesmo de um século para  o  outro. O  racismo faz parte da fibra de que a América é tecida.  Não  adianta  dizer  que  a partir de determinado momento seremos  todos  iguais  quando  uma parte da    população teve    seu progresso  atrasado   em  200  anos. Digamos que  bem agora,  no  meio desta   entrevista,   eu  lhe  dê  uma bofetada,   sem nenhum   motivo  ou razão. Nunca mais poderemos estar juntos  no mesmo  recinto  sem  que você  tema   que   eu   lhe  dê  outra bofetada  [...]. Por isso nos Estados Unidos os brancos  nutrem tamanha desconfiança em relação aos negros que  eles  não conhecem  –   porque aquele pode ser o negro que virá lhe dar o troco."


1.  É   comum  ouvirmos  afirmações  de que no Brasil não há racismo como nos Estados  Unidos.  Compare  o   final  do texto  II ao  ponto  de  vista    do  ator americano Will  Smith.

a) A situação do racismo no Brasil parece ser diferente? Por quê?

b) Nos Estados Unidos, a discriminação   é    latente.    Em alguns estados,     chegam     ao cúmulo  de  ter   bares  só  para negros e lugares onde não é permitida  a  entrada  de  negros. Qual sua opinião sobre esse fato?

2. ATIVIDADE DE  PESQUISA:


FAÇA   UMA   PESQUISA  SOBRE  A  COLONIZAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS  E  ESCREVA COMO  FOI    A   CHEGADA DOS COLONIZADORES AFRICANOS AO  PAÍS E  QUAIS AS FORMAS DE TRABALHO QUE FORAM OFERECIDAS A ESSES IMIGRANTES.

TEXTO V

Brasileiro: a mistura que deu certo


          O  povo e a cultura brasileira são muito valorizados no exterior.  Em   geral,  somos vistos como um povo cuja mistura étnica, cultural, linguística, rítmica, religiosa, gastronômica, etc. resultou num celeiro riquíssimo de criatividade. Veja quanta gente de fora veio fazer parte  do povo brasileiro, entre 1820 e 1950:
africanos: 4 milhões
portugueses: 1,7 milhões
italianos: 1,5 milhões
espanhóis: 719 mil
alemães: 295 mil
japoneses: 243 mil
ucranianos: 200 mil
outros: 450 mil

Fonte: Marcelo Duarte. O guia dos curiosos – Brasil.

ATIVIDADE DE  PESQUISA:
1. Com o  auxílio do mapa-múndi,  identifique o  percurso feito pelos imigrantes para chegarem ao Brasil.
2. Pesquise palavras de origem africana, alemã, espanhola e árabe que ajudaram a formar o português do Brasil.
3. Pesquise na  gastronomia  brasileira,  pratos  de  origem africana, italiana, japonesa e alemã e árabe.
4. Utilizando-se  do texto acima, monte um gráfico da formação do povo brasileiro entre 1820 e 1950  Não se esqueça das legendas.



Fonte: Folha de S. Paulo, 01/05/2005


ATIVIDADES:


1. De acordo com os gráficos, em que profissões os brancos ganham mais que os negros?

2. Em  qual profissão os negros são privilegiados?

3.  Você sabe o valor do salário mínimo atual? Quantos reais  correspondem a dez salários mínimos?

4. Se um Engenheiro de minas (sendo branco) ganha dez salários mínimos e um outro profissional da mesma área (sendo negro) ganha 32,8% deste valor. Qual o salário deste último?

5. Um  Tenente- coronel  recebe um salário de R$ 4,500,00. Qual o salário de seu colega, sabendo-se que ela ganha 73,2% deste valor?

6. Observando o gráfico, você acha que há discriminação com os trabalhadores negros brasileiros? Por quê?


*  Atividades retiradas do sítio: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/478-2.pdf



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