domingo, 14 de dezembro de 2014

Parecer





Parecer para a defesa de Mestrado do Prof. Breno da Silva Lacerda

Parecerista: Profª  Drª Maria Luiza Berwanger da Silva
 (professora do PPG-LET – UFRGS e  Mestrado UNILASALLE )
     


Desejo enfatizar em  minha leitura a fertilidade da Epígrafe escolhida da poesia de Edimilson de Almeida Pereira para matriz inaugural  desta dissertação. Percebo  que essa epígrafe confere sustentabilidade ao percurso da investigação no que se refere à discussão sobre as relações com o mesmo traduzidas pela tipologia de memórias aqui estudadas .  A transparência dessa epígrafe antecipa que a leitura simbólica será demarcada tanto por presenças confessas quanto por presenças inconfessas sejam estas presenças figuradas por sujeitos, temas, mitos e ritos culturais claros e estampados nos poemas, sejam estas presenças figuradas por traços ou resíduos memoriais apenas aludidos.
            Quanto ao resumo, é muito claro e corresponde com verdade ao produto realizado; do mesmo modo, incluo nesse projeto de realizar ao que se propõe, também os questionamentos formulados  os quais são todos respondidos eficazmente (o 1º. Parágrafo da página 11, faz–se amostragem exemplar não só do pensamento lúcido e pontual  , mas também do ajuste entre corpus e teoria no qual a preocupação de estabelecer os procedimentos teóricos para articular uma pesquisa de natureza qualitativa não se sobrepõe à leitura dos poemas, ao contrário, esse ajuste entre teoria e prática produz um ritmo que vai envolvendo o leitor progressivamente na paisagem poética de Edimilson. Ou dito de outro modo: a constante travessia do poema aos eixos teóricos, ao evidenciar  certo conjunto de temas, mitos, ritos e subjetividades e ao desbloquear a palavra retida, dilui as fronteiras entre literatura afro-brasileira, literatura brasileira e literatura regional, nessa diluição consistindo uma das singularidades deste produto da pesquisa realizada.
            Ressalto igualmente a escolha das ilustrações como porta de entrada aos capítulos e o diálogo que estabelecem com as epígrafes, diálogo cuja eficácia demarca com produtividade a progressão da análise em cada capítulo (Cap. 2 – página 14, cap 3, p. 21 – Foto de Edimilson; Cap. 4, p. 26 – o mais rico – cap. 5, p. 51 ) A leitura crítica desta dissertação vista deste ângulo permite observar que   ilustrações e epígrafes postas em intersecção formam uma outra leitura simbólica dentro da leitura efetuada, destacando-a, afirmando-a.
             A singularidade da percepção da poesia de Edimilson (p. 20 e 23) remete e sublinha a fertilidade do “enraizamento dinâmico relacional” que colhe da obra da orientadora, Profª  Drª Zilá Bernd, certo  gesto de homenagem e de postura ética por parte do mestrando, bem como no que toca à bibliografia: faz-se arquivo essencial a todo pesquisador do tema de literatura afro-brasileira.  O presente projeto de pesquisa  configura-se como   lugar-matriz e irradiador do pensamento cultural brasileiro de natureza simbólica e não simbólica (amostragem: estudo do Candomblé – p. 29, da religião – p. 32, do Congado – p 34).
            Assim procedendo, Breno evidencia o que intitula de “sedimentações e transformações” (p. 31) de experiências vivenciadas e recuperadas pela memória, pela diversidade e riqueza de formas memoriais aqui estudadas ou, dito de outro  modo: surpreende nessa leitura da poesia de Edimilson as múltiplas abordagens efetuadas com base na mediação da memória, mas de uma memória viva considerada como memória do presente configurada em seu constante desdobramento para dar conta de certa composição lenta e gradual da identidade rizomática. De certo modo, percebo ao longo do texto, a presença de Édouard Glissant no que diz respeito a poéticas das relações ou, como diz o próprio autor: “Quand l’homme troube son paysage, le paysage de l’autre cesse d’être aliénation” 
            É exatamente esse traço da consciência  lúcida   que permite ao mestrando recortar da poesia de Edimilson a justa medida entre o que nomeia de “função social da literatura” e “trabalho criativo da linguagem” (p.33).
             Destaco dos poemas apresentados “Curiangu” (p. 35) pela pertinência do tema da memória infantil para a paisagem poética de Edimilson (meninos, como diz, “guardadores de memória geracional” p. 38) e depois acrescento p.47 menino: sujeito herdeiro e transformador da cultura. Sendo que Breno lê esse simbolismo do infantil tanto do ponto de vista literário, quanto do ponto de vista antropológico (cultura e transcultural da recordação para ressimbolizar a questão da identidade negra (p.37, p.64 e p.60)
   Outro simbolismo que deve ser sublinhado é o do tambor,  “Um tambor é um segredo” diz o poema “Barbará, dono de segredos” (p.39), mais adiante também se refere ao tambor (p. 41 em “Os Tambores”). O tambor além de configurar a transferência pelo efeito de propagação musical, também assegura o jogo entre o individual (subjetividade) e o coletivo (subjetividade compartilhada),  sublinhando  a participação de um grupo e de sua relocalização na história (exemplo poemas “Despedida” p 68).

            Desejo também destacar a fertilidade do estudo da literatura afro-brasileira na contemporaneidade: ao estudá-la, Breno  insinua  o diálogo potencial dessa com outras literaturas, do mesmo modo que cartografa um provável itinerário de pesquisa para um merecido Doutorado que certamente virá (p. 69).
            O encerramento do percurso da análise pela evidência eficaz da palavra arremata-o de modo muito coerente e produtivo o qual assegura a reflexão articulada nas conclusões das quais destaco p. 72.
Elogio a construção do blog por sua pontualidade e objetividade em perfeita consonância com o recorte da poesia efetuado e lido simbolicamente e que, ao mesmo tempo, faz-se um convite a todo pesquisador – estudioso de literatura híbrida. Logo, hibridismo e transculturalidade convivem em teu trabalho de modo harmonioso e produtivo. E são justamente esses efeitos de harmonia e de disseminação do blog os traços que desejo marcar e com os quais brindarás teus leitores.
            Parabéns a ti e a tua orientadora. 


                                               Porto Alegre , dezembro de 2014 .

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