Parecer para a defesa de
Mestrado do Prof. Breno da Silva Lacerda
Parecerista: Profª
Drª Maria Luiza Berwanger da Silva
(professora do PPG-LET – UFRGS e Mestrado UNILASALLE )
Desejo enfatizar em minha leitura a fertilidade da Epígrafe
escolhida da poesia de Edimilson de Almeida Pereira para matriz inaugural desta dissertação. Percebo que essa epígrafe confere sustentabilidade ao
percurso da investigação no que se refere à discussão sobre as relações com o
mesmo traduzidas pela tipologia de memórias aqui estudadas . A transparência dessa epígrafe antecipa que a
leitura simbólica será demarcada tanto por presenças confessas quanto por
presenças inconfessas sejam estas presenças figuradas por sujeitos, temas,
mitos e ritos culturais claros e estampados nos poemas, sejam estas presenças
figuradas por traços ou resíduos memoriais apenas aludidos.
Quanto
ao resumo, é muito claro e corresponde com verdade ao produto realizado; do
mesmo modo, incluo nesse projeto de realizar ao que se propõe, também os
questionamentos formulados os quais são
todos respondidos eficazmente (o 1º. Parágrafo da página 11, faz–se amostragem
exemplar não só do pensamento lúcido e pontual , mas também do ajuste entre corpus e teoria
no qual a preocupação de estabelecer os procedimentos teóricos para articular
uma pesquisa de natureza qualitativa não se sobrepõe à leitura dos poemas, ao
contrário, esse ajuste entre teoria e prática produz um ritmo que vai
envolvendo o leitor progressivamente na paisagem poética de Edimilson. Ou dito
de outro modo: a constante travessia do poema aos eixos teóricos, ao
evidenciar certo conjunto de temas,
mitos, ritos e subjetividades e ao desbloquear a palavra retida, dilui as
fronteiras entre literatura afro-brasileira, literatura brasileira e literatura
regional, nessa diluição consistindo uma das singularidades deste produto da
pesquisa realizada.
Ressalto
igualmente a escolha das ilustrações como porta de entrada aos capítulos e o
diálogo que estabelecem com as epígrafes, diálogo cuja eficácia demarca com
produtividade a progressão da análise em cada capítulo (Cap. 2 – página 14, cap
3, p. 21 – Foto de Edimilson; Cap. 4, p. 26 – o mais rico – cap. 5, p. 51 ) A
leitura crítica desta dissertação vista deste ângulo permite observar que ilustrações e epígrafes postas em intersecção
formam uma outra leitura simbólica dentro da leitura efetuada, destacando-a,
afirmando-a.
A singularidade da percepção da poesia de
Edimilson (p. 20 e 23) remete e sublinha a fertilidade do “enraizamento
dinâmico relacional” que colhe da obra da orientadora, Profª Drª Zilá Bernd, certo gesto de homenagem e de postura ética por
parte do mestrando, bem como no que toca à bibliografia: faz-se arquivo
essencial a todo pesquisador do tema de literatura afro-brasileira. O presente projeto de pesquisa configura-se como lugar-matriz e irradiador do pensamento
cultural brasileiro de natureza simbólica e não simbólica (amostragem: estudo
do Candomblé – p. 29, da religião – p. 32, do Congado – p 34).
Assim
procedendo, Breno evidencia o que intitula de “sedimentações e transformações”
(p. 31) de experiências vivenciadas e recuperadas pela memória, pela
diversidade e riqueza de formas memoriais aqui estudadas ou, dito de outro modo: surpreende nessa leitura da poesia de
Edimilson as múltiplas abordagens efetuadas com base na mediação da memória,
mas de uma memória viva considerada como memória do presente configurada em seu
constante desdobramento para dar conta de certa composição lenta e gradual da
identidade rizomática. De certo modo, percebo ao longo do texto, a presença de
Édouard Glissant no que diz respeito a poéticas das relações ou, como diz o
próprio autor: “Quand l’homme troube son paysage, le paysage de l’autre cesse
d’être aliénation”
É
exatamente esse traço da consciência
lúcida que permite ao mestrando recortar da poesia de
Edimilson a justa medida entre o que nomeia de “função social da literatura” e “trabalho
criativo da linguagem” (p.33).
Destaco dos poemas apresentados “Curiangu” (p.
35) pela pertinência do tema da memória infantil para a paisagem poética de
Edimilson (meninos, como diz, “guardadores de memória geracional” p. 38) e
depois acrescento p.47 menino: sujeito herdeiro e transformador da cultura.
Sendo que Breno lê esse simbolismo do infantil tanto do ponto de vista literário,
quanto do ponto de vista antropológico (cultura e transcultural da recordação
para ressimbolizar a questão da identidade negra (p.37, p.64 e p.60)
Outro
simbolismo que deve ser sublinhado é o do tambor, “Um tambor é um segredo” diz o poema
“Barbará, dono de segredos” (p.39), mais adiante também se refere ao tambor (p.
41 em “Os Tambores”). O tambor além de configurar a transferência pelo efeito
de propagação musical, também assegura o jogo entre o individual
(subjetividade) e o coletivo (subjetividade compartilhada), sublinhando a participação de um grupo e de sua
relocalização na história (exemplo poemas “Despedida” p 68).
Desejo
também destacar a fertilidade do estudo da literatura afro-brasileira na
contemporaneidade: ao estudá-la, Breno insinua o diálogo potencial dessa com outras
literaturas, do mesmo modo que cartografa um provável itinerário de pesquisa
para um merecido Doutorado que certamente virá (p. 69).
O
encerramento do percurso da análise pela evidência eficaz da palavra arremata-o
de modo muito coerente e produtivo o qual assegura a reflexão articulada nas
conclusões das quais destaco p. 72.
Elogio a construção do blog por sua pontualidade e
objetividade em perfeita consonância com o recorte da poesia efetuado e lido
simbolicamente e que, ao mesmo tempo, faz-se um convite a todo pesquisador –
estudioso de literatura híbrida. Logo, hibridismo e transculturalidade convivem
em teu trabalho de modo harmonioso e produtivo. E são justamente esses efeitos
de harmonia e de disseminação do blog os traços que desejo marcar e com os
quais brindarás teus leitores.
Parabéns
a ti e a tua orientadora.
Porto Alegre , dezembro de 2014 .
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